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Esperando por mim






Um trecho, no início desta música, se destaca bastante. “Digam o que disserem, o mal do século é a solidão. Cada um de nós imersos em sua própria arrogância esperando por um pouco de afeição.” O que o Renato canta depois é sobre outro assunto, um que se encaixa bem sob o título da música. O nome da canção também serve muito bem aqui.
Parece que na sociedade em que vivemos a atenção, o afeto, o amor ao próximo, só são possíveis como moedas de troca. Em Baader-meinhof Blues Renato canta “afinal amar ao próximo é tão démodé,” curioso que Baader-meinhof Blues esteja no primeiro álbum e Esperando Por Mim no último, pois, apesar de tratarem de assuntos bastante diferentes, falam também sobre um mesmo problema. 
Mas talvez já nem seja mais fora de moda amar ao próximo. O que ocorre é que você só ama quem te ama primeiro. Ou não? Por isso tomamos emprestado o título da música da Legião Urbana. Você espera pelo outro, enquanto o outro espera por você e por outros que esperam por outros que esperam por outros… e todos esperam por todos, ou por alguém.
Se o objetivo é o mesmo — ser amado — porque esperar o outro dar o primeiro passo? Não se trata de reformular o mercantilismo do afeto, mas de reconhecer que não estamos sozinhos (note o plural!) e que, mais que não estarmos sozinhos, precisamos de quem nos cerca. 
Em vez de “vou ajudá-lo porque ele me ajudou ou ajudaria”, que tal “vou ajudá-lo porque precisa e posso”? Se temos a dar, por que esperar algum tipo de pagamento adiantado? Por que o trouxa é quem ama sem vergonha disso? Há pessoas simplesmente precisando de pessoas, no entanto esperam por quem não vem. Na verdade, quem não precisa de alguém — ou “alguéns”? Ainda assim o corre-corre egoísta permanece, estimulado e remunerado pela cultura consumista — que consome dinheiro, corpo, mente, saúde… o indivíduo todo. Os livros de auto-ajuda trazem a salvação da humanidade moderna, ensinando o “faça você mesmo”, “seja feliz por conta própria (sozinho)”. Não sobra tempo para ninguém, porque mal há para si. Porém parece que você precisa mais do “ninguém” do que tudo aquilo que lhe consome o tempo.