- -

O choro do mundo

World’s cry (O choro do mundo) e Until we touch the burning sun (Até tocarmos o sol ardente) são duas músicas com letras curtas, simples e diretas, ainda que sejam um tanto metafóricas. Ambas são da banda finlandesa de power metal, Thunderstone e foram compostas pelo guitarrista Nino Laurenne. Tratam, de certa forma, do mesmo assunto, porém com enfoque e contexto diferentes. O assunto é a relação homem-mundo. Nas duas pode-se ver a intenção de chamar a atenção do ouvinte para o seu comportamento, suas atitudes perante o mundo.







Você pode ouvir o choro do mundo?
E me diga por que – Alimentamos esta dor
Você pode ouvir o choro do mundo?
Pode ouvir o choro?
(Refrão de World’s cry traduzido)











Nós nunca aprenderemos
Nós nunca voltaremos
Nossos olhos para o mundo
Onde a dor é realidade
Nós nunca enxergaremos
Nunca acreditaremos
Até tocarmos o sol ardente
(Refrão de Until we touch the burning sun traduzido)






As duas se complementam. A primeira é uma crítica ao modo de vida de cada um e de todos, por não ouvirmos o choro do mundo, ou seja, por ignorá-lo enquanto vivemos nossas vidas “em nosso pequeno mundo mesquinho”. Já a segunda é como um depoimento, de quem reconhece a própria atitude esquiva com relação aos problemas existentes por todo o planeta. A letra se inicia com o narrador dentro de sua casa (onde está “a salvo e enganosamente bem”) apenas observando o mundo “através da janela gelada, através do reflexo de seu próprio rosto.” Ele resolve sair e tudo o que vê o incomoda tanto que ele precisa voltar para seu abrigo o quanto antes, se trancar lá dentro e nunca mais sair. A frase que introduz o refrão é: “E hoje eu farei uma promessa, apenas para quebrá-la amanhã.” E o refrão chega como uma constatação e uma conclusão, dizendo que só na hora da morte é que aprenderemos — algo que, pelo menos aqui no Brasil, já é clichê.
“Nós nunca voltaremos nossos olhos para o mundo, onde a dor é realidade”. Não ouvimos o choro do mundo porque vivemos em “nosso pequeno mundo mesquinho”. “Alimentamos a dor” sem saber por quê! Então, vendo isso e tentando agir diferente do narrador de Until we touch the burning sun, nós levantamos cartolinas no centro da cidade de São Paulo dizendo que queremos ouvir tudo o que quiserem nos dizer.
Estamos abrindo espaço no nosso mundinho para o outro, com a intenção de incentivar a mesma atitude em todos. Todos têm sempre algo a dizer (acreditamos), mas nem sempre têm que os ouça, principalmente porque, em geral, as pessoas falam primeiro e ouvem talvez. Quem sabe se pararmos para somente ouvir, deixando de lado tudo o que eventualmente tivermos para dizer, isto não irá servir de incentivo para que cada um reserve momentos ao outro? Talvez se eu me deixar de lado para ouvi-lo e enxergá-lo, então você se coloque em segundo lugar para fazer o mesmo por alguém.
O sol não precisa crescer tanto que comece a destruir a humanidade para podermos agir desta forma. É o que o Laurenne quis passar com a canção. É, de uma forma bastante diferente, o que demonstramos com nossos cartazes. Nós só vamos aprender quando não tivermos mais tempo para parar de alimentar a dor?